domingo, 13 de novembro de 2011



"Esperas-me no limiar desta dimensão que construímos juntos com as próprias mãos"

Princesa nossa

Tu, que gostas de palavras como velho, velhinho, velhote.
Que encontras na terceira idade a vivência de uma vida rica e produtiva.
Que olhas para um idoso e dizes:
Que lindo velhote, as histórias que vou ouvir dele.
Que bonita velhinha, o que vou aprender com ela. Aposto que sabe imensas modinhas.
Que velho tão querido, a sabedoria que deve ter acumulado.
Tu, que seguras nas mãos desses seres cujos anos se esvaem a cada dia, com as tuas mãos pulsantes de amor e lhes trasmites vida. Da vida que foge de ti mas que repartes com amor.
Que afagas cada rosto e encontras nas suas rugas as marcas, não de sacrificios e dores mas de alegria e felicidade.
Que enxungas com os dedos as lágrimas que rolam suavemente pelos seus rostos fatigados e lhes arrancas um sorriso luminoso como o teu.
Tu, que te despedes de quem morre com um até já mais efusivo do que o até para a semana com que te afastas de mim, como se tivesses mais certo dentro de ti o reencontro com quem parte para sempre.
Que absorves as suas palavras e os fazes falar das suas vidas com alegria na voz.
Que às suas lamúrias: Já não sirvo para nada, estou para aqui, mais valia morrer... lhes respondes com as imensas coisas boas que fizeram. Os filhos que tiveram e educaram, homens e mulheres que produzem... e que os abandonaram! Que não os visitam, não lhes telefonam, não lhes levam bolinhos de canela... mas disso não falas, inventas histórias de como andam ocupados nesta vida dificil e corrida que absorve completamente. E eles ficam orgulhosos das suas crias. Como se houvesse carreira, familia, amigos, viagens que justifiquem o abandono de quem lhes deu a vida!
Tu, que ensinas os seus dedos trémulos da idade e da doença a fazer rabiscos e lhes provas que afinal ainda conseguem fazer algo mais que comer e vegetar.
Que lhes lês romances e lhes recitas poesia com um trinado inigualável.
Que lhes dás verdadeiramente carinho e afecto.
Que os arrancas da frente da televisão e os fazes dançar em comboio I Like the Way de Eddy Wata.
Amiga Penelope, não esqueças tu de que tens de viver! De viver para nós, seres egoístas que te amamos. Que no nosso inconformismo, nos nossos medos, te queremos a nosso lado. A segurares-nos na mão protengendo-nos de nós mesmos e do mundo fora da gente.
A arrancar-nos sorrisos com a tua forma peculiar de falar.
A conforta-nos com o teu olhar que nos lê a alma.
A dançar com a mesma graça de quando eras menina e pousavas os pézinhos nos sapatos do teu pai para aprender a “voar na música”.
Não é que não respeitemos o teu desejo de ser pó de estrelas, areia em 100 desertos, onda em 1000 praias. Mas mais tarde, pode ser? Quando me fechares a mim os olhos. Quero que sejas a última coisa que eu veja e ter nas minhas as tuas mãos, amiga.
Amiga minha de todas as graças, irmã nas minhas desventuras. Tu que transformas as lágrimas em pérolas ao mostrares que o sol brilha apesar das nuvens, muito lá em cima, mas brilha.
Não quero ver os teus olhos fechados, não quero cruzar as tuas mãos sobre o teu peito onde mora um coração que contém o mundo.
Por isso, não te esqueças de viver, de ficar velhinha como os Homens e Mulheres a quem tornaste tão feliz estes dias.
Sabes, és como a brisa do mar que amas – vens quando és precisa e refrescas as nossas vidas.
Como queres que não te amemos? Só podemos adorar-te.
Fica connosco aqui na terra, o céu tem já tantos anjos...
Deus não precisa de mais, nós sim, necessitamos de ti. Eu preciso de ti!